Uma decisão do cão!

Aumentar a família com um canino em nossa casa era idéia antiga mas com nosso estilo de vida corrido londrino, morando numa casinha de bonecas, ficando fora de casa por até 16 horas por dia, não dava nem pra sonhar em ter sequer um gato, quiçá um cachorro! Doía pensar que estávamos vivendo uma vida que não nos agradava mais, e que para mudar isso seria necessário colocar a nossa "segurança" em xeque!  

A felicidade estampada na cara no dia em que George veio para a sua nova casa

A felicidade estampada na cara no dia em que George veio para a sua nova casa

No fim das contas a questão é simples, você prefere continuar aqui, fazendo o mesmo, ou se mudar e começar tudo de novo, com a possibilidade de fazer dar certo o sonho de ter mais tempo, e talvez menos dinheiro, mas mais qualidade de vida, e ainda se dar a chance de aumentar a família?

Então mudamos para o interior. Mudamos para uma cidade industrial, mas com um dos mais lindos parques nacionais da Inglaterra, a 15 minutos de uma bela casa cujo proprietário nos aceitou como inquilinos com um bicho de estimação, cujo aluguel custava a metade do nosso aluguel em Londres, mas pelo triplo de espaço! E o melhor, logo arrumamos emprego e voltamos à ativa.

Foi quando George veio pra casa 😃
 

Como escolhemos a raça?

Tinha que ser um cão fácil de treinar, fácil de manter, de natureza doce, não muito grande, e o mais importante, que não soltasse pêlo. Por uma série de motivos de saúde, raças misturadas tem menos problemas genéticos, inclusive o seguro de saúde deles é até mais barato por isso.

Com planos ambiciosos de treinar o nosso cachorrinho para me auxiliar no trabalho como Terapeuta Comportamental, pensei logo num Golden Retriever com Poodle (Goldendoodle), ou um Cavalier King Charles Spaniel com Poodle (Cavapoo ou Cavoodle).

Um belo dia, durante uma na escalada no Parque Nacional do Peak District, conhecemos o Eddie, um cavapoo muito simpático, de um dono ainda mais simpático, e foi o suficiente para decidirmos pela raça...
 

Porque pegamos um cão bebê?

Reabilitar um cão cheio de maus hábitos pode ser mais complicado do que trabalhar com um cão novinho, que está aprendendo tudo novo.
 

Como foi a vinda de George para seu novo lar?

Trouxemos o George de Hull, uma cidade que fica a 1h30 de casa. Fomos visitá-lo quando ele ainda tinha apenas 9 semanas, e poucos dias depois de ele tomar sua última vacina fomos buscá-lo. A criadora nos ofereceu juntamente com o George, alguns brinquedos, comida para um mês, seguro saúde para um mês, e um cobertorzinho com o cheirinho dos  seus irmãozinhos e de sua mamãe, para que ele se adaptasse em sua casa nova com mínimo de sofrimento possível. 

A coleira que se prende ao cinto de segurança do carro é primordial para que ele não ande solto pelo carro ou não voe para fora no caso de um freada brusca ou acidente, colocando a vida dele e a nossa em risco. George sempre toma um refresquinho ant…

A coleira que se prende ao cinto de segurança do carro é primordial para que ele não ande solto pelo carro ou não voe para fora no caso de um freada brusca ou acidente, colocando a vida dele e a nossa em risco. George sempre toma um refresquinho antes de pegar a estrada...

Separamos a área da sala de jantar para ser o espaço confinado dele. O chão é de taco, e fácil de limpar. Os futuros xixis e cocôs que vieram mostraram que essa foi uma ótima decisão.
 

Como foram os primeiros dias de George conosco?

George passava o dia me seguindo e sentando no meu pé. Eu já queria treiná-lo imediatamente. Comecei a levar a ferro e fogo o meu conhecimento na área comportamental, e implementar estratégias para tudo. Eu não só estava extremamente feliz por ele estar aqui, mas igualmente frustrada nos 3 primeiros dias, pois minhas expectativas eram altíssimas!!! Eu queria fazer o treinamento do banheiro - pra ele aprender onde fazer, ou melhor ainda, onde não fazer xixi e cocô - em 3 dias!! 😂

George não estava acostumado a dormir só, e sofreu de ansiedade de separação todas as vezes que fechávamos a porta para limpar a sujeira que ele fazia no chão da sala de jantar. Na hora de dormir, durante a noite, o choro durava 15 minutos. Durante o dia era constante, bastava fechar a porta e sumir de vista pra ele começar o chororô.

No terceiro dia resolvemos que íamos cuidar disso com afinco!
 

Qual a estratégia usada para ele parar de chorar na nossa ausência? 

Usei a comida da hora do almoço para treinar o George a acostumar com gente entrando e saindo da sala de jantar sem choros. Toda vez que eu saia da sala, jogava alguns biscoitinhos pelo chão, aí ao invés de chorar, ele se entretia caçando a comida. Antes que ele começasse a chorar, eu entrava novamente na sala, mas sem dar atenção alguma a ele. Ele não estava chorando, mas eu não vinha abraçá-lo, ou trocar carinhos com ele, nem o olhava. Eu só passava. Bebia um copo da água, sem olhar ele, e passava novamente deixando biscoitos pra trás...  

Se ele estivesse chorando assim que eu fechasse a porta da sala, eu esperava ele parar de chorar para passar pelo cômodo novamente, pra ele não relacionar o choro a minha volta.

Eu fiz isso até a comida dele acabar. 

No final dessa 1 hora de choro que parava e recomeçava, ele já estava cansado de me ver passar e fechar a porta, então acabou parando totalmente de chorar.

Durante os próximos dias, na hora de dormir deixei biscoitos no chão assim que anunciei "bed time" (hora de dormir), e o choro diminuiu para 0!

Como queremos condicioná-lo a não chorar fora de nossa presença, precisamos praticar bastante e nos atentar que para deixá-lo sozinho por 6 horas seguidas é necessário que ele se acostume a ficar só e tranquilo, sem choro, por pelo menos 6 minutos.
 

Presentear os bons comportamentos

Também para ajudar com a adaptação do George na casa, colocamos uma grade de proteção de bebê na porta da sala de jantar pra evitar ter que deixá-la fechada, assim George não se sente isolado. Agora quando precisamos que ele fique lá, ele ainda pode sentir o nosso cheiro e nos ver passando. Continuamos a não lhe dar atenção imediata quando entramos na sala de jantar ou passamos por lá, mesmo que ele pule em cima e peça pra brincar ou implore por carinho a gente passa reto. Ele só ganha atenção e carinho quando está calmo e tranquilo! Ajuda muito viver numa casa que não tem um cachorro doido pulando em você quando você entra e sai.

O comando "senta" e "espera", também está nos ajudando a condicioná-lo a esperar por mais tempo, a cada dia fazemos ele esperar um pouco mais, e a tolerância dele por esperar está aumentando muito!

Muito da educação do cachorro se dá em presentear e elogiar com agrados, comidas e brinquedos quando ele faz algo correto, ao invés de xingá-lo quando ele faz algo errado.
 

Rotina, o X da questão

Mantivemos consistência na estratégia que utilizamos para treiná-lo nos próximos dias, porque não adianta você fazer, e o seu marido não! Ou, você faz e seus filhos não! Mantivemos uma rotina. De tudo o que você pode fazer pelo seu cachorro, o melhor é dar-lhe uma rotina em que todos hajam da mesma maneira. Isso facilita muito o aprendizado e "entendimento" do que se é esperado dele.

Quando acordamos pela manhã, seguimos uma rotina simples. 

1. Colocamos George no quintal para ele fazer xixi e cocô.

2. Saímos para andar - levamos biscoitos (que são metade do seu café-da-manhã) para treiná-lo a andar na coleira, não seguir estranhos, ignorar carros e tolerar barulhos - como o de um trêm passando. 

3. Voltamos pra casa e lhe damos o resto de sua comida.

4. Só então trocamos afeto e carinho com ele.

De alguma maneira George já se comporta muito bem por sua idade. Ele tem só 3 meses e já entende bastante coisa! E isso tudo só é possível se você oferece consistência para o seu cão. Não espere que o seu cão entenda que ele não deve te incomodar na hora do almoço se alguém da família alimenta o cachorro na mesa. Importante é nunca abrir excessão, NENHUMA VEZ, se você quer manter um bom costume por toda a vida... 

George and the monkey! O monkey "só aparece" na hora de dormir e tem o cheirinho da mamãe e irmãozinhos do George, que também dá a dica que a hora do sono chegou... 

George and the monkey! O monkey "só aparece" na hora de dormir e tem o cheirinho da mamãe e irmãozinhos do George, que também dá a dica que a hora do sono chegou... 

Morder a mão ou os dedos, mastigar móveis e sapatos não!

Cachorrinhos também tem dentes de leite. Sim, eles trocam os dentes por volta dos 4 meses de vida, portanto aguarde que ele vai viver procurando por algo para mastigar.

Eles tentarão morder os seus dedos, e por mais fofo que seja não permita! Com o George não toleramos mordidas na pele de maneira alguma e ele já sabe que não deve. Toda vez que ele só lambia ganhava carinho e comida. Quando mordia era ignorado ou mais tarde quando aprendeu o significado da palavra NÃO, falavámos "não" e interrompíamos a brincadeira!

Tenha certeza que você tenha sempre por perto brinquedos ou objetos que ele possa morder para substituir pelos que você não quer que ele morda.

É muito simples, você tira dele o que não quer que ele morda e oferece imediatamente o brinquedo ou objeto adequado. Demora umas semanas mas eles pegam o jeito. George não tenta mais comer nossos sapatos e também não morde os móveis. As vezes ele pega uma roupa suja nossa ou meia para morder e substituímos por um brinquedo dele imediatamente. É importante que ele saiba seus limites e que você não abra excessões quando pequeno. Bons hábitos aprendidos desde cedo são preservados por toda a vida... 


Xixi no lugar certo?

George está conosco a 3 semanas e já faz 95% das necessidades no lugar certo. Como conseguimos isso?

Primeiro que George é muito inteligente e aí vai a importância de escolher uma raça que se adeque as suas necessidades e tempo que pensa ter disponível para educar seu cão.

Nós usamos dessa genialidade dele para lembrá-lo o quão bom é fazer as suas necessidades no lugar certo! 😃

Ele ficou 1 semana meio perdido, e isso foi culpa nossa.

1. A princípio não ficamos atentos para o fato de que cachorros bebês tem bexiga pititica, assim como o estômago! É meio que entrou, saiu! De 20 a 40 minutos depois que um cachorro de 10 semanas comer e beber, ele deve precisar usar o jardim 😉!

Com o tempo eles aprendem a segurar por mais tempo e é esperado que o cachorro seja capaz de segurar seus necessidades por 1 hora por mês de vida, portanto George é capaz de segurar por volta de 3 a 4 horas até precisar usar novamente...

2. Além de fazer no jardim, eu queria que se ele estivesse só em casa, que também tivesse um lugar designado dentro da área confinada dele em casa para usar, então temos várias variáveis no que diz respeito ao treinamento do banheiro do nosso cão. Não podemos desanimar, e lembrar sempre do grande progresso que ele já mostrou; pode levar bastante tempo até o final do processo...

3. Se você estiver planejando treinar o seu cachorro para fazer somente fora de casa, se prepare para ter de acordar de madrugada para levá-lo para fora. Eu acordo de madrugada para ir ao banheiro, e então abro a porta para que ele também vá... Tem ajudado bastante a atingir o sucesso do treinamento...

Para ajudar George a ir no lugar certo dentro de casa, usamos nas fraldinha de treinamento que deixamos dentro da área confinada onde ele dorme, um spray com cheiro de xixi que atrae os cães e ajudam a lembrá-los a fazer no lugar certo.

Embora George esteja bem treinado para o xixi e cocô, temos que lembrá-lo de ir fazer fora durante o dia. Ele é muito pequeno e precisa de ajuda. Os acidentes são comuns e podem continuar acontecendo até pelo menos até o sexto mês de vida, dependendo de quão acertivo você seja no treinamento... 

Para evitar muita bagunça, deixe sempre o seu cão em sua área confinada se você não puder supervisioná-lo. Eles aprendem, mas demora tempo e muita paciência... Temos que tentar aproveitar esse processo sem muito stress já que ele é inevitável, e que ele vai passar rápido...

 

Dia-a-Dia

Temos vários sinais de que George está se adaptando muito bem a vida aqui em casa. 

Já cortamos as unhas dele 3X, ele já tomou banho e também já cortamos o pêlo do rosto. Ele é um bebê agitado e ama estar conosco. Percebo que ele fica mais calminho quando sai para andar por pelo menos 30 minutos e quando está na nossa presença.

Ele já sobe e desce as escadas, e já deixamos a portãozinho da sala de jantar aberto para que ele tenha acesso à sala sob nossa supervisão. Quanto mais ele se mostrar adaptado as novas regras da nova família dele, mais espaço ele vai ganhando...  

George fez 3 meses ontem e também já reconhece alguns comandos como, "muito bem", "bom menino", "deita", "senta", "fora", "desce", "sobe", "espera", "vem", "xixi", "cocô", "porco", "pega a bola" e responde ao seu próprio nome. Ele sabe o nome de alguns brinquedos e esta aprendendo coisas novas todos os dias, super rápido. Ele não puxa a coleira na caminhada na vizinhança e já até recebemos a visita de um amigo cachorro, o Winston, pra brincar com ele ontem pela primeira vez. Ele é muito divertido, e nós já o amamos.

George e Winston cansados depois de disputarem muito a bolinha :)

George e Winston cansados depois de disputarem muito a bolinha :)

Ontem George andou no parque comigo sem coleira pela primeira vez e se comportou muito bem. Fizemos amizade com outros cães e vamos incentivá-lo a se socializar com outros cães desde de pequeno. É muito importante para a saúde física e mental dele! 

É importante sempre lembrar que os cães devem ser estimulados, e que mudanças no ambiente e na rotina deles podem acarretar respostas diferentes no comportamento deles, portanto nenhum truque aprendido, é mantido para o resto da vida, ao menos que ele seja exercitado e relembrado com frequência para que você e seu cão possam fazer uso deles também na hora da disciplina. Você pode potencialmente salvar a vida do seu cão se garantir que ele obedeça ao seu comando com precisão. 

Se existe algum arrependimento sobre essas mudanças todas de vida, é a de não ter mudado para esta casa e não ter trazido o George pra cá antes... 

Pelos próximos anos que virão, que ele viva o suficiente para que possamos cuidar dele, e ele de nós, até que ele fique bem velhinho!