Em Setembro vim a trabalho para o Brasil e tive 2 trechos de viagem comprados por meus clientes (passagem de ida e volta). Quando eles fecharam esses vôos eles me perguntaram se eu me importaria em voar diretamente para o Rio de Janeiro (onde estive por 2 meses), mas sair do Brasil de volta a Londres por São Paulo (onde vive a minha família). Eu me animei na hora e disse a eles que na verdade era uma ótima idéia, sendo que eu poderia passar alguns dias com a minha família antes de retornar a Londres. Mesmo trazendo pouca roupa, tive duas malas para despachar, sendo uma delas cheia de material de trabalho.
À princípio isso não me pareceu um problema, mesmo sabendo que para voar do Rio para Campinas eu teria que pagar por uma mala extra. Bom, no dia da minha ida, fiz questão de chegar no aeroporto um pouco antes (como de costume) para evitar ser pega por imprevistos. Eu estava ansiosa para ver a minha família e fui logo tentar despachar as minhas malas. Chegando lá, a atendente me pediu para pesar as malas e me informou que eu estava com 23kg de excesso. Eu expliquei a ela a minha situação e disse a ela que sabia que teria de pagar por uma mala extra e que estava preparada para isto... Ela então deu prosseguimento ao check-in e me informou que o preço de cada Kg extra era calculado baseado nos 0.5% do valor da passagem mais cara do dia, uma conta que é feita e gerada por um sistema.
Acontece que ela achou uma passagem daquele trecho por R$3.900 e aí eu não entendi mais nada, e o preço dos meus kgs extra somavam em quase R$800.00 😂
Claro que tendo pago R$ 300.00 pela passagem eu não imaginava que pagar para despachar por 1 mala poderia custar tanto. Eu imaginei sim, que como nos vôos dentro do continente Europeu ou Norte Americano, existe uma taxa, mas não que esta taxa chegue a mais de 100% do valor do seu ticket. Isso não faz sentido algum. Por outro lado, eu procurei por este ticket caríssimo e não o encontrei; e mais, checando as passagem no mesmo trecho Rio de Janeiro (Galeão)- Campinas (Viracopos) no dia seguinte achei passagens quem custavam R$400.00.
Fui ficando desesperada... afinal, não ganhamos para cometer esse tipo de engano e mais, não teria dinheiro de qualquer maneira para jogar fora desta maneira... tentei ligar para o Murilo que não atendeu... Eu estava só para resolver este problema.
Chorei um pouco para aliviar a tensão em meio aos acontecimentos inesperados, depois pensei, repensei e tomei a decisão de dar um outro jeito. Eu não queria ter de pagar mais do que 50% do valor da minha passagem (R$ 150.00) para despachar uma mala, eu tinha decidido. E comecei a tentar bolar planos mirabolantes para conseguir esta façanha😂 mas eles foram caindo por terra...
A. Eu poderia pedir desconto e explicar a minha situação na compania aérea, mas não funcionou logo de cara porque a gerência explicou que este preço é gerado pelo sistema e que ela não tinha poder algum para modificar isto...
B. Eu poderia comprar uma passagem de ônibus Rio-Piracicaba online e chamar um Uber para levar a minha mala para a Rodoviária Novo Rio (de onde saem os bumbas para Piracicaba) e despachar só a mala e dar uma gorja boa para o "Uberista"- pagar o estacionamento dele e tals - mas eu teria que fazer um punhado de ligações e não tinha esse tempo todo, poderia morrer na praia (já que a compania de ônibus poderia negar levar só a minha sem mim) e poderia ainda, na pior das hipóteses ser sacaneada "estilo carioca malandro" e nunca mais ver meu material de trabalho, embora fosse ficar menos da metade do preço da minha passagem, logo abortei essa opção...
C. Decidi então, logo que a gerente saiu de cena, perguntar para a atendente do guichê se ela sabia quantas pessoas ainda faltavam para embarcar no meu vôo. Ela muito solicita respondeu que de 140 pessoas que viajariam naquele trecho, haviam 16 pessoas ainda para fazer o check-in. Eu olhei pra ela, ela olhou pra mim e eu perguntei:_Quanto tempo eu tenho antes de ter que fazer o check-in? Ela disse: - 20 minutos...
Fui para o saguão e comecei a perguntar quem estava indo para Campinas. Perguntei a umas 20 pessoas... Apenas 2 homens com mochilinhas brancas iguais e sem malas para despachar, vestindo roupa social disseram que estavam indo a Campinas, eu então não tive hesitei e pedi a eles que despachassem uma das minhas malas pra mim.
Eu contei a eles toda a minha história, contei que era terapeuta comportamental e que havia vindo a trabalho para o Rio e que eu fazia questão que ele olhasse dentro da minha mala e levasse com ele o meu passaporte em mãos até que pudéssemos reaver as nossas bagagens em Campinas. Disse a ele ainda que entendia se ele mudasse de idéia e que naquele caso eu ia ter de pagar com cartão de crédito parcelado (quase 1 salário mínimo para despachar 1 mala de 23 Kg do RJ a SP) e era isso que eu iria ter que fazer, contra todos os meus princípios.
Para a minha surpresa ele me disse que faria isso, que não tinha problemas, a não ser que olhasse o conteúdo da minha mala... Eu não acreditei! Fiquei pasma. Fizemos os check-ins em cima da hora e tivemos que correr para embarcar em meio a tamanha confusão... A gerente voltou e nos informou descontente e agitada de que se houvesse qualquer problema relacionado a conteúdo da mala ou desvio de bagagem nos seriamos responsáveis por tudo e blá, blá, blá.
Minha mala ainda estava com excesso e ainda tive que pagar R$128.00 por isso, e paguei feliz, afinal, estava dando tudo certo! Como neste momento já estávamos atrasados, corri na frente pulando fila de Raio-X e passando na frente de todo mundo gritando: _Desculpem, podemos passar? Vamos perder o vôo (como desses malucos que vemos vez ou outra correndo dentro do aeroporto) enquanto os irmãos da mochilinha branca corriam logo atrás de mim...
Voamos. Didi não quis levar o meu passaporte com ele e o vôo que é super curto (de 1 hora) logo pousou (eu ainda estava suando). Enquanto caminhávamos em direção à esteira para pegar as malas eu encontrei o meu passo no dele e perguntei:
- Porque você fez isso por mim? E ele respondeu:
- Porque eu tive certeza da sua honestidade quando você me explicou a sua situação.
Nem precisamos discutir aqui que eu poderia ser uma maluca e estar tentando prejudicar alguém. O fato é que talvez eu mesma não fizesse isso por mim! E esse foi o maior tapa na cara que eu pude tomar.
Fomos conversando sobre isso e então ele me disse que se chamava Didi e estava com o irmão. Que os dois trabalham no ramo da construção civil e haviam ido ao Rio para um congresso, que era casado e tinha dois filhos. As boas almas que apareceram no meu caminho naquela tarde são de Itú - interior de São Paulo e trouxeram para o meu primeiro dia de viagem a reflexão do pensamento positivo, a relação forte que existe na ação para resolução de problemas, mas acima de tudo trouxeram o resgate da bondade e da confiança que podemos e devemos ter e dar uns para os outros!